

CP: Eu não creio que seja exatamente assim. O que acontece é que às vezes agente percebe que há planos armados que se desfraçam de entrevista quando na realidade o único que se busca são certos lugares comuns. Os entrevistadores se repitem, sempre fazendo as mesmas perguntas. Não te despertam vontade de falar. Se repitem muito a misma pergunta é evidente que eu vou repetir a mesma resposta que já dei antes. Às vezes agente tenta abordar algo novo a determinada resposta que já deu umas dezenas de vezes….
RC: É verdade. A maior parte das entrevistas estão ligadas aos propósitos do entrevistador. Você tem vontade de falar de sua infância?


RC: Então, o que mais te afetou até o momento foi aquele divórcio entre seus pais?
CP: Istos te marca, te marca para sempre. Pode ser que por essa lembrança eu exagerei durante todos estes anos com a necessidade de formar uma família que não se desfizesse.
RC: Você nunca conviveu com um namorado?
CP: Ainda não. Não se trata de forçar uma família, a questão é como fazer para doar ou para doar-se a alguém, para abandonar a ocupação completa do espaço existencial comigo mesma, para dar lugar à presença de outra pessoa. É como tomar a decisão de dar a vida. Agente espera que aconteça, porém durante todos estes anos não aconteceu e eu nunca quiz forçar que me acontecesse porque gosto muito do que faço, estou muito bem comigo mesma.
RC: Quantas horas diárias te ocupam estas grabações?
CP: Nove ou dez horas.
RC: É muito. Bom, se compararmos a um operário da construção e até com um taxista que trabalham até doze horas, porém eles não o fazem por gosto. Você está de acordo que o trabalho dos artistas não deveria se chamar trabalho…há uma tremenda diferença econômica…
CP: tem uma momento em que o dinheiro é muito importante. Estou trabalhando muitas horas, porém para mim é um prazer estra aqui. O que não gosto é não poder dizer um dia “hoje não quero ir trabalhar”, nesse sentido é como bater o cartão, é escravizador, porém estou satisfeita com os resultados.
RC: Você está de acordo que los Pells não é Kafka. Digo Kafka porque creio que você o interpretou no teatro.
CP: Não sou muito leitora, não tenho lido muito, gosto de ler porém me custa. Me custa concentrarme, necessito tempo e quase sempre não o tenho. De Kafka li somente essa novela El castillo. Fiz a obra somente porque a dirigiu Miguel Guerberof, senão fosse por ele nem me aproximaria a esse texto. Eu não me considero de ninhum modo uma artista, Miguel era um artista. Eu tenho um ofício que me permite estar perto do artístico. Você observa a vida de Garveró e sua vida foi sempre o teatro. Também na televisão tive a sorte de estar quase sempre rodeada de bons atores e eles me aproximaram mais da zona mais artística. Porque eu venho do mundo da normalidade, venho de um colégio, adorav ir, era uma garota bem adaptada. Sem Garveró não me atreveria nunca a me aproximar de Shakespeare. Pórém meu trabalho é a televisão, me pagam, minha imagem se vende e esse éxito de minha imagem me permite seguir trabalhando, talvez necessite de outros desafios porém não neste momento.
RC: Então voçê não tem muita experiência no teatro...
CP: Eu fiz teatro dez anos embora fosse comercial. Fiz quatro obras de Shakespeare, fui a Alemanha onde pela primeira vez se fez uma obra de Shakespeare em espanhol. Para fazer teatro tem que rodear-se de artistas. Na televisão é outra coisa, tem que se preocupar em cumprir com os horários. Tive a sorte de estar sempre envolvida em bons projetos.
RC: A televisão é marcad por muita inveja e concorrências cruéis…
CP: Suponho que há. Melhor dizendo: sim , há essa inveja ou essse ciúmes e bastante. Porém eu tenho conciência do grupo que me afasta dessas zonas. Quando você está em um elenco compreende cedo ou tarde que sozinho você não é nada, nem vale nada. Em uma obra ou em uma novela há um momento para cada um e há um momento que é para todos. Eu sempre senti a necessidade de estar bem rodeada. Para me contagiar. Porque quando você está atuando se produz algo como uma febre que se contagia. O teatro é essa febre contagiosa. Cuidado, a má atuação também é contagiosa. Eu trato de me juntar com bons atores para atuar melhor. Porém por suposto que se compete, se compete pelo éxito, pelo rating, pelos prêmios, eu gostoa muito ganhá-los.
RC: Não te parece que a premiación é uma frivolidade?
CP: Sim, eu no sei o que se premia, porém mentiria se te dissesse que não gosto de receber um prêmio, me encanta. Atenção: se não os recebo não acontece nada; agora pode acontecer que os receba, porém nunca fui premiada antes. Não trabalho para ganhar prêmios. Porém sim me colocam nessa posiçãoe, o que se sente é: “melhor que o dê para mim”.
RC: Voccê já se apaixonou escandalosamente, com desespero e lágrimas?
CP: Sim, porém eu passei por isso, aprendi algo de mim mesma; depois que termina descobre coisas minhas. Para mim aconteceu que eu percebia que não prosperava em algo mais sereno e prazeiroso que é o que buscamos: co companheirismo, o par para poder compartilhar as coisas boas e más da vida. Eu terminava fazendo análise e o que resultava disso tudo o que acontecia era que conseguia me entender mais, chorava durante alguns meses, choraba muito e depois me esquecia.
RC: Você teve aventuras eventuais de puro erotismo e fascinação sensual?
CP: Sim, as vivi, porém honestamente passei bastante mal nessas aventuras. Você encontra repentinamente em cenas e lugares que não reconhece nem tem nada a ver com você. Sim tenta passar seus limites para sair de você mesma e de seu próprio mundo; você encontra aborrecimento, incomoda.
RC: Porém tão pouco fostes una mulher de buscar um par...
CP: O que passa é que nunca encontrei uma pessoa com a que pudesse compartilhar muito. Nunca convivi. Agora sim estou tentando, porém me custou muito tempo para encontrar a confiança, esse dormir e despertar todos os dias com a mesma pessoa.
RC: Agora, seguindo os gostos de seu companheiro você vai a um recital de Smog...
CP: Sim, gosto muito do disco de Callahan. Nunca fui roqueira. Nunca gostei nem escutei a García ou Spinetta. Sempre gostei do jazz antigo, nada me comove mais que Chet Baker, Charly Parker ou Dizzi Gillespie. Tenho todos os discos de Duke Ellington. Me passa algo parecido com o cinema, gosto dos filmes antigos como Ladrón de bicicletas ou La armada Brancaleone. Por suposto que também gosto David Lynch, porém não há nada melhor que os atores de La Armada Brancaleone, é uma desses grupos dos que agente quer formar parte, esse filme concentra e expressa minhas próprias ideias. Também é porque são coisas que tenria que ter conhecido aos 17 anos e as descubri já bem grandinha. Quando era mais nova me fazia de moderna.
RC: Não te grila o passar do teempo, a inevitável certeza de que o tempo nos vai encurralando em direção às portas da extinção….
CP: Conheço esse miedo e obviamente trato de evitá-lo. Creio que desde uns três ou quatro anos depois de uma viagem que fiz tomei conciência do quão efêmero que é o existir, o quão efêmeros que são todos os momentos e que cada fato que acontece pela primera vez também acontece pela última vez e essa sensação é muito angustiante. Creio que a morte de alguém produz medo porém as mortes que nos fazem sofrer são as dos demais.
RC: Você tem esperanças religiosas?
CP: Não, não tenho, talvez ter um filho é como deixar algo no mundo. Um mestre deixa algo no mundo. Sua pasagem pela terra teve uma razão de ser. A morte mais recente e dolorosa foi a de meu mestre, Miguel Garveró, aos 67 años. São as únicas mortes que conheçoco, a de meu avô e a de Miguel, que se foi faz um año e medio. Porém meu avô não foi um velho que eu amasse muito. Miguel, en cambio, era mi melhor amigo e morreu deuma forma surpreendente. Não foi um fato que se anunciasse. Não era que ele estuivesse se preparando. Miguel dizia que havia que evitar o hospital, porém murreu ali. Quando lhe disseram que podia chegar a ter uma doença cardíaca disse tchau, lhes mando um beijo. Foi tudo muito breve. Chegou ao hospital a tarde de um dia depois de que teve uma parada cardíaca, o examinaram, concluiram que ele estava bem, tudo normal e ele morreu na manhã seguinte. Eu sem saber me despedi dele. Essa noite vimos um filme na televisão do hospital, vimos Quién le teme a Virginia Woolf? e nos despedimos. A última brincadeira que ele fez foi às doze da noite e às sete da manhã estava morto. Enquanto o acompanhava no hospital, era algo quase obsceno porque eu sentia que a morte nos estava estreitando. Ele estava bem, não se dava conta disso, me fazia piadas porém eu estava como que simulando porque pressentia a morte, apesar de queos médicos não haviam encontrado sequelas. Era nossa primeira "cena" de hospital, geralmente nossas "cenas" eram nos bares. Na manhã me ligaram e quando soube fiquei atordoada, em silêncio. Depois chorei. e ainda por cima depois fui ao velório e todos os espantosos trâmites da morte. Quando um ser tão lindo se vai, o mundo muda, perde graça. Foi meu grande companheiro, nos encontramos e nunca pudemos nos separar.
RC: Você teve maus desempenhos, interpretações frustradas?
CP: Não sei se más, porém mais ingênuas, sem estar preparada, com conceitos que não eram bons. Um ator vai se tornando um buen ator com o tempo e a experiência; você podes ter intuição, porém a vida vai te tornando em um bom ator. Por isso a importância de buscar o artístico em outro lado. Um ator se alimenta das imagens, das experiências, do que vai conhecendo das pessoas e sobretudo de você mesmo.
RC: E no cinema você teve experiência ?
CP: Não. Fiz um filme com Carlos Sorín, que vai estreiar dentro de pouco tempo, creio que em Março. Se chama La ventana. Se trata da história de um dia na vida de um homem que vai morrer. Está esperando a visita de seu filho que é músico e que faz tempo que não o vê. Eu interpreto o papel da esposa do filho. Uma garota que se prepara para conhecer a família de seu companheiro. É o cinema familiar, cotidiano, íntimo que Sorín gosta e que consegue fazer tão bem. O cinema se parece com a televisão porém é mais objetivo. Na televisão eu faço 45 minutos diários do roteiro e no cinema toda o filme equivale ao roteiro de um dia na televisão.
RC: Como você faz para memorizar todos esses textos diariamente?
CP: Primeiro leio o roteiro para ver como é e o que faz meu personagem na história com respeito aos demais personagens; à noite antes de gravar fixo as cenas que tenho que fazer no outro dia. O roteiro já está traçado, mas se pode mudar um pouco, porém eu trato de ser exata, não gosto de divagar senão me limita.
RC: Como você julga a Los Pells?
CP: Eu não o vi porque não tenho televisão. É muito bom não ver televisão, eu tive épocas que não veía nunca e me facia muito bem.
RC: O que te pregunto é se resulta possível fazer uma telenovela boa...
CP: Não é uma telenovela, é uma comédia romântica. Não há uma heroína romântica. Não é uma tragédia. São fatos mais parecidos com a realidade. Para mim o que mais gosto da televisão é que me permite atuar todos os dias e me encanta estar todos os dias à beira da atuação; não é narcisismo, eé prazer de trabalhar, me encanta me agrupar e em Los Pells estou muiyo biem rodeada.
RC: Você gostava também interpretar o fantasioso personagem que fazia em Lalola?
CP: Era um personagem muiyo improvável, poderia ter sido um fracasso enorme para mim. Um homem que se despertava com o corpo de uma mulher. Era interessante e de fato há vários filmes com essa ideia, que desenvolveram o tema. Porém eu tinha que fazer 180 capítulos com essa ideia. Era muito. Quando fiz 120 piadas, o que mais podia fazer além de fazê-los com os sapatos que me apretavam ou as saias que não gostava? Porém a repetição é a base da televisão e se me nego à repeticção não deveria trabalhar mais.
RC: A televisão costuma ser uma dominadora de cérebros, um antro perverso de projeções medíocres…
CP: Eu não me questiono. Não gosto de fazer certas coisas e trato de não fazÊ-las. Não gosto dos personagens com sotaque porteño (originário de Buenos Aires) exagerado. Tão pouco seria apresentadora. Cuido do uso de minha imagem, até agora não fiz publicidades, trato de não ir aos eventos onde me convidam porque sou conhecida. Porém imagina só se por dinheiro eu aparecesse em eventos para entretener as pessoas, se me chamassem da televisión. Como eu ia me negar?
RC: Revista Critica
CP: Carla Peterson
FONTE: Revista Critica / Por E. Symns( 31.01.2009) Foto:Leandro Sánchez
Tradução: Soraia Teixeira
PARA CONFERIR A METÉRIA NO SEU IDIOMA ORIGINAL ACESSE: http://criticadigital.com/index.php?secc=nota&nid=18000
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